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segunda-feira, 27 de agosto de 2012



BIOGRAFIA DE GIL VICENTE


 



                         GIL VICENTE, foi um  grande gênio da literatura ocidental, não se sabe o  local de seu nascimento, viveu aproximadamente entre l465 e l537, seus dados biográficos são inseguros. O poeta deve ter frequentado uma escola ou pode ter sido orientado por algum religioso em sua adolescência em alguma parte da Beira. Gil Vicente usava o seu prestígio na corte para criticar as mazelas das diferentes classes sociais existentes na época. Era ele quem preparava as festas palacianas e era mestre da balança da casa da moeda. Sua primeira peça foi "A visitação doo Vaqueiro" (l502).  Ele viveu entre quatro reinados,de D.Afonso V a D. João III, assistindo assim, as transformações na história de Portugal, desde os alvores do Renascimento à heróica empresa do império ultramarino
                 Casou em 1512, pela primeira vez com Branca Bezerra, sua segunda mulher foi Melícia Rodrigues. Sua filha Paula Vicente foi musicista e aia da Infanta D. Maria e Luís Vicente, seu filho, reuniu a produção teatral do pai e em l562 a publicou com o título de "Copilaçam de todas as obras de Gil Vicente".
                          O cronista de D.João II, Garcia de Rezende, testemunha de modo deslumbrante as representações do teatro vicentino, destacando algumas de suas características; a presença expressiva de estilo, a constante renovação de temas e das formas, a primazia dessa arte em terras portuguesas e a superioridade de suas criações, pelo talento cômico e pela estrutura doutrinária dos seus temas.
                                 Sem tradição dramática, Vicente busca sugestões para o seu teatro pastoril da primeira fase na experiência espanhola de Juan Del Eucina.  A sua primeira obra cômica, o "Auto da Índia" (1509), dá ínício ao seu teatro de crítica social e se desprende do modelo espanhol.
                                 Na maturidade artística entre os anos 1515 a 1521, Vicente depura cada vez mais o teatro religioso produzindo as melhores criações: "A trilogia das Barcas" e o "Auto da Alma". orientando-se no teatro alegórico e romanesco, Vicente realiza sua obra mais perfeita, com a criação da "Farsa da Inês Pereira".
                      A sátira e as peças pias estão continuamente a serviço do missionário, preocupado na edificação do homem e na sua subordinação à providência.
                               Suas peças dão-nos a sensação de quem escreve num inteiro à vontade com a mais franca autonomia.  Gozando naturalmente de uma liberdade de espírito na corte em que vive, explica-se que Gil Vicente fustigue de forma impiedosa toda a sociedade de seu tempo, desde o papa, o rei, o alto clero, até à mais baixa classe social.  O seu teatro divertia, mas também ensinava.
                           Gil Vicente nunca atacava instituições; atacava, sim, os homens que nela prevaricavam. Na sátira ao clero, cuja soltura de costumes - desde a simonia à vida amancebada - vinha se agravando a partir dos fins da Idade Média, Gil Vicente não fazia mais do que colaborar com a própria igreja no trabalho de preservação dos inocentes e de recuperação dos religiosos transviados.
                           O que torna imorredouro o teatro vicentino é, não só esta visão total de uma época complexa e grande na história da cultura ocidental, mas o tratamento de temas universais e a presença dominante de um lirismo carregado dos valores mais legítimos da inspiração poética. Está presente nas reflexões, nos momentos de prece, nas conquistas amorosas de seus personagens; está no recheio musical de suas cantigas tradicionais, está também, nas admiráveis descrições da natureza. As primitivas fontes do seu teatro são, pois, poéticas, desde a égloga ao simbolismo dos mistérios, desde o folclore poético nacional ao seu franciscanismo. O seu teatro seria tanto mais teatro na medida em que se libertasse desses vínculos primitivos da poesia. Talves por isso Fidelino de Figueiredo chegasse a pensar que a salvação da dramaturgia vicentina residiu na individualidade poética do auto.
                 O desprezo por aquelas categorias que deram a arquitetura e o equilíbrio do teatro clássico, a sucessão das cenas com num teatro de revista, fazendo o público desfilar com todos os seus vícios perante si mesmo, constituem todo o encanto da arte vicentina e as condições necessárias para a sua perenidade.
                     O seu teatro não é apenas uma visão da sociedade de seu tempo em todos os pormenores: é a visão da vida do homem na sua totalidade, desde os mais prosaicos problemas da vida doméstica às mais dramáticas situações morais. Além do uso de caracteres e aspectos extraídos da realidade, vicente intuiu situações, motivos e temas de interesse universal, que vieram a ser explorados mais tarde pela literatura dos séculos XVII, XVIII e XIX: o tema caracteristicamente barroco do homem na sua vida dilemática entre as forças do bem e as solicitações sedutoras do mal; a própria consciência cristã do homem ocidental, torturado pela idéia de que possui uma alma para salvar;... as bagatelas da vida caseira que a literatura clássica desconheceu completamente e só os escritores do século XIX conseguiram incluir no temário da literatura, são outras tantas notas que o realismo descritivo de Gil Vicente não se esqueceu de registrar.
                   É neste sentido que Gil Vicente é muito mais realista do que Camões. Este expressa a grandeza do homem de Quinhentos, a aventura do espaço e a superação das forças adversas da natureza; aquele procura exprimir as misérias da vida, o homem na sua pequenez, o homem preso às realidades terrenas, que precisa purificar-se para a salvação de sua alma.  O que os aproxima é o sentimento cristão: no épico, expresso pela consciência de cruzada a que se destina o seu povo na dilatação da fé; no dramaturgo, subentendido no efeito purificador de sua arte, a ensinar a renúncia e propor o caminho que leva à salvação.
               Uma classificação literária da produção teatral de Gil Vicente é quase impraticável se pensarmos em fórmulas rígidas. Como um artista tipicamente medieval não obstante escrevendo em plena renascença, Gil Vicente não atende à distinção das formas literárias : cria segundo as solicitações de seu gẽnio, das circunstâncias ambientes e da matéria a ser representada; preocupado apenas na caracterização psicológica e social de seus tipos e na estrutura poética do texto.
              Os continuadores do teatro de Vicente nos séculos XVI e XVII - Antonio Prestes, Baltazar Dias, Luís de Camões... - não conseguiram manter esse brilho da dramaturgia vicentina: a ausência do elemento lírico e o acentuado grosseirismo da expressão a roçar muitas vezes pela obscenidade e portanto tornando esta produção imprópria para o tablado, teriam sido as causas fundamentais desse declínio do teatro popular e por conseguinte do auto.
Se deixarmos de lado certas formas que são esporádicas no teatro vicentino - como o "sermão burlesco" e o "Monólogo", poderíamos distribuir as peças vicentinas em:
       a) Autos (que versam os seus temas tradicionais: mistérios, moralidades, milagres e episódios pastoris) 
            ex: "Auto Pastoril Castelhano" (1502)
      "Auto dos Reis Magos"(1503).
       b) Teatro Romanesco (cujo temário é extraído muitas vezes das novelas de cavalaria)

            ex: "Comédia de Rubena "1521), "Comédia do Viúvo" (1524).
       c) Fantasias Alegóricas (cujos antecedentes são os "momos" realizados no fim da Idade Média, especialmente no reinado de D.JoãoII, fantasias que lembram muito o nosso teatro de revista)
           ex: "Frágua do amor" (1524), "Nau de amores" (1527). 
      d) Farsas
          1- Episódica
              ex."Juiz da Beira" (1525), "A Romagem de Agravados".
          2- Novelesca(ou narrativa) completa
              ex. "O velho da Horta" (1512), "Inês Pereira" (1523).
              Deste quadro sumário se observa que Gil Vicente se manteve fiel à tradição do "Auto" durante toda  a sua carreira dramática; que o período climático dessa produção corresponde aos anos de 1517-1519, em que cria os autos das "Três embarcações" e o 'Auto da Alma"; em 1523, após palmilhar novas direções estéticas, voltou à farsa novelesca para dara sua mais acabada criação artística com a "Inês Pereira"; e que, ao deixar provisoriamente o teatro religioso em 1520, o dramaturgo tentou duas novas orientações: o teatro romanesco e o teatro alegórico.
                                               
                                              (Resumo da Introdução de Segismundo Spina, obra: Gil Vicente 19  ed., ed. brasiliense, 1988, págs. 7 a 19).

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