ROMANTISMO – A POESIA EM PORTUGAL E NO BRASIL
INTRODUÇÃO
Definiu-se como escola literária na
Europa a partir dos últimos 25 anos do século XVIII. O romance “Werther”, de
Goelhe, publicado na Alemanha em 1774, lança as bases definitivas do
sentimentalismo romântico.
Em Portugal, o Romantismo apresenta-se
com a publicação em 1825, do poema “Camões”, de Almeida Garrett, em seu exílio
em Paris. Os primeiros anos dessa escola em Portugal coincidem com as lutas
civis entre liberais e conservadores, acirrados com a renúncia de D Pedro ao
trono brasileiro e sua luta pelo trono de Portugal, ao lado dos liberais.
No Brasil, duas publicações iniciam o
Romantismo, ambas lançadas em Paris, por Gonçalves de Magalhães em 1836: a
revista “Niterói” e o livro de poesias “Suspiros Poéticos e Saudades”.
MOMENTO HISTÓRICO
Define-se a
partir de 1836, com a publicação da revista “Panorama”, se seguiram as primeiras
narrativas de Alexandre Herculano e os dramas de garrett. Com o liberalismo
burguês em alta, desaparece a censura absolutista e propõe-se novas idéias políticas
e literárias.
O fim do
Romantismo aconteceu com as rebeliões de um grupo de jovens de Coimbra, e
atingiu se auge em 1865, com a Questão
Coimbrã que revolucionou as letras em Portugal.
è
No Brasil o Romantismo ocorre a partir da
chegada da Família Real em 1808, levando o Rio de Janeiro a um processo intenso
de urbanização, período propício à divulgação das tendências européias.
Após 1822,
ano da Independência, cresce no Brasil o sentimento de nacionalismo, busca-se o
passado histórico, exalta-se a natureza pátria, características que se
encaixavam à necessidade brasileira de auto afirmação.
O declínio do Romantismo brasileiro
coincide com a decadência da Monarquia escravocata: em 1870, manifestaa-se
pensamentos realistas, naa faculdades de Recife e São Paulo. Em 1881,
publica-se os primeiros romances de tendência realista: “O Mulato”, de Aluísio
de Azevedo e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis.
ROMANTISMO: EXPRESSÃO LITERÁRIA DA BURGUESIA
“Ora, deixando de lado outras discussões prévias que o
assunto implica, pensamos que o Romantismo se deve caracterizar em função das
relações entre o escritor e o público em dado momento da história da
civilização européia ocidental. Abreviando:
o Romantismo é a expressão literária da época em que o escritor entra em
contato com as massas burguesas em fase de ascensão.”
Antonio José Saraiva. Para a história da Cultura
Em Portugal.
CARACTERÍSTICAS
·
O Romantismo liberta-se da Corte, dos
nobres exigentes que financiavam sua. As obras deixam de ser encomendas e o
público agora é amplo e produção anônimo. Aparecendo uma nova linguagem.
·
O surgimento de um público consumidor e a
literatura torna-se mais popular. Surge o romance, forma literatura acessível;
o teatro abandona as formas clássicas e se inspira em temas nacionais. A prosa
artística ganha espaço que era negado no clássico.
·
No aspecto
formal aparece o verso livre,
sem métrica e sem estrofação e o verso
branco, sem rima, prevalecendo o “acento da inspiração”.
PREFÁCIO AOS SUSPIROS POÉTICOS E SAUDADES
“É
um livro de poesias escritas segundo as impressões dos lugares; ora assentado entre
as ruinas da antiga Roma, meditando sobre a sorte dos impérios; ora no cimo dos
Alpes, a imaginação vagando no infinito como um átomo no espaço; ora na gótica
catedral, admirando a grandeza de Deus, e os prodígios do Cristianismo; ora
entre os ciprestes que espalham sua sombra sobre os túmulos; ora enfim
refletindo sobre a sorte da Pátria, sobre as paixões dos homens, sobre o nada
da vida. Poesias d’alma e do coração, e que só pela alma e pelo coração devem
ser julgadas. [...]
Quanto à
forma, isto é, a construção, por assim
dizer, material das estrofes, nenhuma ordem seguimos; exprimindo as
ideias como elas se apresentaram, para não destruir o acento da inspiração;
além de que, a igualdade de versos, a regularidade das rimas, e a simetria das estrofes
produz uma tal monotonia, que jamais podem agradar.”
MAGALHÃES,
Gonçalves de. Gonçalves de Magalhães
– trechos escolhidos.
Rio de Janeiro: Agir, 1961, p.88.
·
Quanto ao conteúdo, há o cultivo do Nacionalismo, que é a exaltação da
natureza pátria, no retorno ao passado histórico e na criação do herói
nacional. ( na literatura européia, os heróis belos e valentes cavaleiros
medievais; na brasileira, são os índios, também belos, valentes e civilizados).
A natureza tem múltiplos
significados: é uma extensão da pátria, é um refúgio à vida urbana, é um
prolongamento do próprio poeta e de seu estado emocional.
·
Sentimentalismo,
que é o “cartão de visita” do movimento, as emoções pessoais são valorizadas, o
mundo interior, o subjetivismo. Esse
eu valorizado gera o egocentrismo,
colocando os poetas românticos como o centro do universo, gerando choque entre
a realidade e o interior do poeta
. Evasão Romântica, que são constantes fugas da realidade, provocadas pelo estado de frustração perante a derrota do ego: álcool,ópio,prostíbulos, saudades da infância, Essas fugas têm ida e volta, exceção fita à maior de todas as fugas românticas: a morte.
. O fim do romantismo(década de 1860) é marcado por uma literatura mais social que aparece a partir das transformações que atingem toda a Europa, como a Revolução Industrial, por exemplo. A literatura passa a refletir as grandes agitações, como a Questão Coimbrã em Portugal e a luta abolicionista no Brasil, resultando na poesia social de Castro Alves.
COMPARAÇÃO ENTRE O CLASSICISMO E O ROMANTISMO
CLASSICISMO ROMANTISMO
> modelo clássico > não há modelos
> geral, universal > particular, individual
> impessoal, objetivo > pessoal, subjetivo
> Antiguidade clássica > Idade média
> paganismo > Cristianismo
> apelo à inteligência > apelo à imaginação
> razão > sensibilidade
> erudição > folclore
> elitização > motivos populares
> disciplina > libertação
> imagem racional amor/mulher >imagem subjetiva/sentimental do amor/mulher
> formas poéticas físicas > versificação livre
GERAÇÕES ROMÃNTICAS EM PORTUGAL
DOIS GRANDES MOMENTOS - 1838 E1865
. Primeira geração: Autores responsáveis pelo novo estilo
Almeida Garret e Alexandre Herculano
Segunda Geração: o chamado Ultraromantismo, característica que leva a exagero, como nas obras de Camilo Castelo Branco e Soares de Passos.
GERAÇÕES ROMÂNTICAS DO BRASIL
Primeira Geração: Nacionalista ou Indianista : marcada pela exaltação da natureza, volta ao passado, criação do herói nacional. O Sentimentalismo e a Religiosidade também estão presentes. Destaque para Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães.
Segunda Geração: mal-do-século. É também chamado byroniana, pois sofre influência da poesia de Lord Byron. Têm a presença do egocentrismo, negativismo, boemia, dúvida, desilusão adolescente e tédio- características do Ultraromantismo, o verdadeiro mal-do-século -, seu tema é a fuga da realidade. Destaque para Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela.
Terceira Geração:Condoreira -poesia social e literária, reflete as lutas internas da 2a. metade do reinado de D. Pedro II. Conhecida como Hugoana, por sofrer influência de Victor Hugo e de sua poesia político-social. O termo Condoreirismol vem do símbolo de liberdade adotado pelos jovens românticos: o condor, águia que habita o alto da cordilheira do Andes. Destaques: Castro Alves e Sousa Andrade.
PRODUÇÃO LITERÁRIA- O ROMANTISMO POÉTICO EM PORTUGAL
-> Almeida Garret (1799 - 1854)
As primeiras poesias têm características árcades, onde o poeta defende a imitação de autores quinhentistas e a perfeição estética,como no texto de Lírica de João Mínimo, publicada em 1829.v
Num segundo momento, os poemas narrativos históricos "Camões" e D.Branca" - não propriamente românticos, refere-se, respectivamente, suas paixões, seu amor à pátria; e o segundo retrata as lutas da reconquista.
Num terceiro momento, a poesia dos últimos livros: Flores sem fruto e Folhas caídas, voltados para o amor e experiências pessoais, cores e angústias de seu relacionamento com a Viscondessa da Luz.
Este inferno de amar
Este inferno de amar - como eu amo!
Quem mo pôs aqui n'alma...quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando - aí quando se há de ela apagar?
Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?
Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? - Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...
GARRET, Almeida, Lírica completa.Lisboa: Arcádia, 1979. p.368.
-> Soares de Passos(1826 - 1860)
Marcada pelo sentimentalismo, solidão, visão liberal-burguesa da sociedade e presença da morte. "O noivado do sepulcro", balada que apresenta um lirismo jurídico.
PRODUÇÃO LITERÁRIA - O ROMANTISMO POÉTICO NO BRASIL
-> Gonçalves Dias (1823 - 1864)
Consolidou o Romantismo brasileiro, trabalhou temas como o indianismo, a natureza pátria, a religiosidade. As Sextilhas de Frei Antão, são poemas escritos em português medieval. "Casar o pensamento com o sentimento, a idéia com a paixão", pregava o poeta. Suas composições líricas dão uma visão de amor do homem romântico, marcados por dor e sofrimento.
Como autor da primeira geração, ele apresenta poesia nacionalista, idealiza a figura do índio, com sentimentos e atitudes artificiais, europeizada. Utiliza recursos de métrica, musicalidade e ritmo.Destacam-se: "I-Juca Pirama", "Marabá" e "Cançao do Tamoio".
-> Álvares de Azevedo (1831 - 1852)
Responsável pelos contornos definitivos do mal-do-século em nossa literatura, influenciada por Byron e Musset. Suas poesias falam de amor e de morte, amor idealizado, irreal, não se materializa. Daí a frustração, o sofrimento. Seu livro de poemas Lira dos vinte anos revela uma duplicidade: um poeta meigo, dóci
lltambém satânico, irônico.
Noite na Taverna, livro de contos fantásticos é exemplo da literatura mal-do-século. É um livro em prosa que fala de seis estudantes bêbados narrando suas aventuras marcadas por sexo, incestos, assassinatos,traições e mistérios.
-> Castro Alves( 1847 - 1871)
Poeta da última geração, educado pela literatura de Víctor Hugo, tem horizontes mais amplos. Cultivou o egocentrismo, como os outros da 1a. geração, mas também interessou-se pela realidade que o rodeava. Cantou a mulher, o amor, a morte, a repúlblica, o abolicionismo e as lutas de classes.
Enquanto ele apresenta em sua temática tendências realistas, é perfeitamente romântico na forma, exagerado nas metáforas, comparações, antíteses e hipérboles, típicos do Condoreirismo:
"A praça! A praça é do povo
como o céu é do condor
É o antro onde a liberdade
Cria águias em seu calor."
A sua poesia lírico-amorosa evolui da idealização para concretização das viagens sonhadas pelos românticos; aparece uma mulher de carne e osso, sensual, individualizada em Eugênia Câmara.
"Boa noite, Maria! Eu vou-me embora
A lua nas janelas bate em cheio
Boa-noite, Maria! É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio
[...]
Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo atento!"
Na busca por um grande ideal democrático(a Repúlblica), Castro Alves tornou-se célebre por sua obra sobre a escravidão; o importante era a derrubada da Monarquia e, consequentemente, o trabalho escravo. O poeta alcançou maior sucesso fundindo a efusão lírica e a eloquência condoreira, como atestam-se as poesias: "Vozes al África", "Saudação a Palmares" e "Navio Nagreiro".
"Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança..."
(fragmento da sexta parte do poema "Navio Negreiro".
( Resumo do livro:" Português: de olho no mundo do trabalho", de Ernane Terra e José de Nicola.)
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